domingo, 13 de novembro de 2011

Conto 7 - Diários de Uma Vampira


Conto: Diários de Uma Vampira
Autora: Louise Duarte
Classificação: R
Disclaimer: Esses personagens e história pertencem a mim, não publique o conto sem autorização prévia ou créditos necessários.

Rio de Janeiro, 12 de Maio de 2011.

Eu acordo e observo você dormindo. Oh Ewan. Você parece tão relaxado quando não está sob os efeitos da lua cheia. Eu aliso seus cabelos dourados que se prendem entre os meus dedos. Eu os solto antes de acariciar seu peito nu. Eu sorrio antes de me levantar, colocando meu robe, não ousando fazer um ruído que possa despertá-lo.

Vou até a janela e acendo um cigarro, quando imagens do meu passado invadem a minha mente. Memórias de um passado que eu preferia esquecer. De como eu fui condenada, amaldiçoada.

Eu comecei esse diário há uma semana e já estou quase terminando. Aqui narro a minha vida como vampira e como me tornei esse ser das trevas.

Se eu gosto dessa vida? Se eu gosto de roubar vidas inocentes para saciar à minha fome? Certamente que não, mas eu me adaptei a essa condição. Não há nada que possa fazer para mudar isso, infelizmente.

A fumaça do cigarro me acalma, mas logo depois fico nervosa novamente. Me lembro daquela terrível noite, da noite fatídica em que me tornei uma imortal.

Era o ano de 1885, na minha adorável cidade de Londres. Cidade onde nasci. Foi lá, no Regent’s Park  em Camden Town que conheci um homem misterioso e sinistro chamado Kiev Deville, um conde vindo da Ucrânia. Ele disse que transformaria a minha vida para sempre. E fez o prometido ao me violentar ali mesmo em uma área isolada do parque onde ele mordeu o meu pescoço sugando todo o meu sangue. Depois disso, ele ainda jogou o meu corpo no Regent’s Canal antes de desaparecer.

Eu renasci algumas horas depois. Saí molhada e semi nua do canal com as minhas roupas rasgadas e destruídas por aquele homem abominável.

Voltei caminhando lentamente para o Camden Town, o bairro onde eu morava com os meus pais. Depois de entrar em minha casa e trocar as minhas roupas úmidas após tomar um banho, eu sinto fome pela primeira vez. Uma sede de sangue, e isso significava que eu precisava me alimentar o quanto antes.

É quando a minha ama entra em meu quarto carregando uma muda de roupas. Eu não vejo outra alternativa e a ataco ali mesmo, sem dar chance para a pobre mulher de se defender. Eu era mais forte do que ela. Sempre fui, sem me dar conta disso. Eu devoro seu sangue com todo gosto e sem sentir nenhum pudor. Aquele liquido quente e rubro e ao mesmo tempo delicioso. Meus lábios ainda estavam com o liquido escorrendo pelos cantos da minha boca quando comecei a me sentir diferente. Mais forte. Sinto a minha pele mais enrijecida, mais translúcida, meu cabelo mais sedoso e meus olhos mais vistosos.


Apesar do que eu fiz, eu me sinto bem, me sinto satisfeita. Mas tudo muda quando meus pais entram em meu quarto e se dão conta do que aconteceu. Eles olham para mim, chocados com a cena. Chocados em ver nossa ama, morta e pálida no chão.

-       Kate, o que você fez? – Minha mãe pergunta assustada, vendo a minha nova aparência. Eu estava mais bonita, mas também estava assustadora, com meus olhos amarelos como de um lince e caninos.

Eu, Kate Austeen era uma vampira aos 21 anos e já tinha feito a minha primeira vitima antes mesmo do dia acabar e com poucas horas depois de ter sido transformada. Eu não sabia se isso era bom ou ruim. Ou muito ruim.

Com medo de repetir o feito com meus pais, eu saio correndo usando somente o vestido que acabara de colocar.

Depois de vagar por horas pelas ruas de Londres, vou parar em um bordel chamado “Red Light” ou “Luz Vermelha” e apesar de não me conhecer, a dona me acolhe quando eu aceito trabalhar para ela em troca de ter um lugar para ficar.

O inicio do meu primeiro emprego foi difícil porque acabei matando alguns clientes e precisava me livrar dos corpos antes que a Senhora Darcy desconfiasse de algo.

Com o tempo, eu acabei me adaptando e não matava somente meus clientes, mas pessoas que cruzavam meu caminho na rua quando a minha fome apertava. Eu ficava com pena delas, mas não era a culpa das coitadas terem cruzado o caminho de uma vampira com o estômago vazio.  

Eu tive vários relacionamentos. Entre amantes, clientes, admiradores e até mesmo o Senhor Deville, voltou uma noite ao me descobrir trabalhando para a Senhora Darcy. Ele queria pagar muito caro para me ter por uma noite e tentou negociar isso com a senhora Darcy, que acabou aceitando o acordo. Não tive outra alternativa a não ser me deitar com ele.

-       Você deveria me agradecer, minha querida. Eu lhe fiz um favor lhe transformando em uma imortal. Você nunca irá morrer ou ficar doente. Irá viver para sempre e será jovem por toda eternidade.
-       Mas a que preço ? – Eu lhe pergunto, saindo da cama o mais rápido possível e colocando minhas roupas de volta. – Tirando a vida de pessoas inocentes para poder me alimentar? Isso é horrível.
-       Você se acostuma. – Ele diz, enquanto se vestia novamente. Ele joga o dinheiro na cama, me fazendo me sentir um lixo, antes de ir embora. Eu nunca mais o vejo depois dessa ocasião.

Infelizmente ele estava certo. Eu me acostumei mesmo. Por mais horrível que seja admitir. Quando você é um vampiro, você precisa escolher entre a sobrevivência e a sua consciência moral e infelizmente, a minha sobrevivência continua falando mais alto. Eu sou fraca. Muito fraca.

Foi por esse mesmo motivo que sempre tentei evitar me relacionar com homens de uma maneira mais profunda que a carnal. Eu não poderia me apaixonar e deixar ser levada por aquele impulso e depois não conseguir me controlar e acabar matando o pobre diabo. Isso não poderia acontecer de jeito nenhum.

É claro que isso mudou quando eu te conheci Ewan. Você me mudou. Mas você é diferente como eu. É um ser das trevas como eu e juntos nós nos completamos. E ajudamos um ao outro. Você me ajuda nas minhas necessidades de vampira e eu te ajudo nas suas necessidades de lobisomem. É por isso que a nossa parceria dá tão certo. Eu acabei me apaixonando por você de verdade Ewan Carmichael. Eu pergunto se vampiros tem o direito de se apaixonar, sendo esse um sentimento tão humano. Mas eu não me importo, você foi o único ser que me fez me sentir dessa maneira.

O único homem que me faz delirar em nossas noites de amor, o único que me entende e que pode compartilhar comigo de nossas noites de crime. Somos a versão sobrenatural de Bonnie & Clyde. Nossas noites se reúnem em sangue, suor e sexo. Meus três esses (“S”) favoritos.

Eu dou um sorriso bobo, lembrando de nossas noites de prazer. Meu estômago ronca e vou até a cozinha. Pego uma caneca de sangue congelado que mantenho na geladeira e coloco no microondas para esquentar. Um minuto depois está aquecida e quentinha para me alimentar já que não estou com muita disposição para sair e nossa “dispensa” ou melhor sótão está cheio de comida. Sangue fresquinho.

Volto para o meu quarto com a caneca, e começo a escrever novamente antes de notar você se mexendo na cama. Ouço um rosnado, seguido de um barulho e vejo você acordando. Você se levanta e caminha nu em pelo na minha direção, se aproximando de mim antes de me fazer largar a caneta que usava para preencher as páginas desse diário. Começa a me despir em seguida, rosnando no meu ouvido quando meu robe cai por completo no chão, revelando minha nudez. Você então me leva para cama, lambendo meu pescoço e uivando de excitação. Acho que você tem outros planos em mente para essa noite, Ewan. Vou ter que terminar esse diário uma outra hora.

FIM 

Nenhum comentário:

Postar um comentário