Tudo Que Ela Faz É Mágico
por Louise Duarte
Luisa
acordou agitada naquela noite. E o pior de tudo é que ela não sabia o porquê.
Ela tinha certeza que não tinha nada a ver com o forte calor que caia sobre o
Rio de Janeiro ou “Hell de Janeiro” como um amigo apelidou a cidade. Não sabia
dizer se era porque ela pressentia que uma guerra se aproximava. Uma guerra
entre o bem e o mal e ela não sabia nem quanto tempo isso iria demorar a
acontecer.
Ela
decide aproveitar sua insônia para escrever algo. Como boa repórter do jornal Noticias Globais, ela dá um suspiro ao ver seu namorado
Carlos dormindo em sua cama, e deixa o quarto na ponta dos pés para não
acordá-lo.
Ela
pega seu laptop e se se senta à mesa da sala, enquanto o computador ligava, mas
sua cabeça continuava distante. Ela não iria conseguir escrever um artigo
também. Sua mente estava a mil e ela precisava desacelerá-la um pouco.
Ela
aproveita o computador ligado e pesquisa em alguns sites de Bruxos desconhecidos
por humanos. As famosas “Pages Not Found” que na verdade são sites com feitiços
e poções, mas que eram disfarçados através de um feitiço para que os mortais
não soubessem da existência de bruxos de verdade coexistindo com eles.
Como o
computador estava demorando um pouco para carregar as páginas, Luisa decidiu
tentar um truque que aprendeu com uma bruxa da Califórnia. Ela coloca sua mão
na tela do computador e se concentra. Segundos depois, ela começa a acessar os
sites sem nem precisar passar o cursor por eles. E como por um passe de mágica
(literalmente!), ela memoriza todos os feitiços e poções de que precisaria.
- Luisa, o que é que você está fazendo? –
Uma voz rouca, pergunta atrás dela. Luisa se assusta antes de notar Carlos
acordado, vestindo apenas o short preto de seu pijama de seda, já que estava
muito quente na capital carioca. Apesar de sonolento e sem usar seus óculos de
grau, o repórter nota o que Luisa fazia.
- Eu não conseguia dormir – Ela
justifica, se sentindo um pouco culpada por usar magia daquela forma.
- Ainda nervosa por conta do ataque ao
jornal? Eu sei que você ficou um pouco abalada, mas, estão todos bem. Ninguém
saiu ferido, querida.
- Eu sei disso, Carlos, mas aquele ataque
foi para mim. Foi um aviso. Dizia claramente que eu não sei com quem eu estou
mexendo e que é um erro eu tentar mexer nesse vespeiro sobrenatural.
- Calma, Lu. – Carlos tenta confortá-la,
acariciando seus longos braços, fazendo-a dar pequenos gemidos. Ela dá um
suspiro notando que aquilo não iria dar certo naquele momento.
- Sinto muito Carlos, mas eu não estou no
clima. Quem sabe outra hora, sim? – Ela diz um pouco frustrada enquanto tentava
navegar em outro site de feitiços, antes de sumir em uma nuvem de fumaça lilás
diante da expressão surpresa do namorado, que ainda não havia se acostumado com
a mudança que suas vidas sofrera desde que Luisa descobrira que era uma bruxa.
Do outro lado da cidade, Luisa aparece no apartamento de seu
irmão gêmeo Lucas, que olhava para ela com um olhar reprovador.
- Muito bem, posso saber o que você está
fazendo? – O bruxo pergunta enquanto Luisa tentava recobrar o equilíbrio. Ela
ainda não havia se acostumado com a maneira que Lucas arranjara para torturá-la
desde que eles se tornaram bruxos: invocá-la na hora que ele quisesse por
teletransporte. Embora ela pudesse fazer o mesmo com ele já que eles eram
ligados telepaticamente, mas ela odiava quando ele abusava desse poder para
proveito próprio.
- Como assim? Foi você que me chamou
aqui, lembra? – Ela relembra, se sentando no sofá branco de couro do fotógrafo,
enquanto tentava fazer com que a tontura passasse. – E quantas vezes eu já pedi
para você não me convocar assim? Eu poderia ter vindo de carro.
- Assim é mais rápido. Depois, a sua
tontura já vai passar. E eu não poderia esperar você enfrentar esse trânsito
caótico até chegar aqui.
- Lucas há essa hora não tem trânsito.
São quase duas da manhã.
- Que seja. Era importante o que eu tinha
para conversar com você. Não poderia esperar.
– Ele se ajoelha diante dela, segurando suas mãos e olhando seus grandes
olhos castanhos antes de iniciar o papo. - Olha, maninha. Você sabe que eu te
amo mais do que tudo no mundo, mas estou muito preocupado com você. Essa
inversão de papéis entre nós não é legal.
- Inversão de papéis? Do que você está
falando? – Luisa pergunta confusa.
- Luisa, mana. Você sempre foi a irmã
responsável da nossa dupla e eu o irmão irresponsável, mulherengo, garanhão,
conquistador... – Lucas diz com um sorriso sarcástico no rosto fazendo Luisa
rolar os olhos.
- Ta, eu já entendi Luc...
- O fato é que desde que você voltou
daquela viagem onde conheceu aquele Coven na Califórnia, você anda agindo de
maneira diferente em relação à bruxaria. Você anda descuidada. Mais ainda. Você
anda usando magia para futilidades como para acelerar a conexão do seu
computador, como você fez hoje.
- Eu sei, mas é que... Estava tão
lerdo... Eu não agüentava esperar tanto tempo. Depois, eu estou muito
estressada ultimamente especialmente depois do ataque ao jornal. Eu não estava
aguentando. Sem contar que o deadline para entregar o meu artigo para o jornal
é amanhã de manhã e eu ainda não consegui nem escrever o lead. – Ela dá um
longo suspiro – Depois foi você que me convenceu de ir para Califórnia conhecer
aquelas bruxas lembra? Trocar conhecimentos e aprender com bruxas experientes
foram as suas exatas palavras.
- Eu só não achei que você fosse ser
corrompida em tão pouco tempo. – Lucas argumenta. – Eu aposto que foi aquela
bruxa ruiva que tentou destruir o mundo. Ela é encrenca na certa.
- A Aly? É, ela tinha razão. Ninguém
compreende como lidar com magia é tentador.
- Por favor, Lu. Eu só te peço para ser
mais cuidadosa está bem? Você lembra-se da nossa profecia não lembra? Juntos
nós somos imbatíveis, mas separados... Podemos ser facilmente corrompidos para
o lado das trevas. E um de nós será corrompido, se não unirmos nossas forças
para essa luta, mana. Por favor, tome cuidado.
Luisa
dá um longo suspiro sabendo que seu irmão estava certo. Ela não queria virar
uma bruxa das trevas, especialmente porque aquilo significaria que ela teria
que lutar contra Lucas e aquilo estava fora de cogitação. Mas a convenção anual
de bruxas vindas de todos os cantos do planeta conhecido como BruxCon que
aconteceu no mês passado na Califórnia, só a fez enxergar o seu novo mundo com
um olhar diferente. Uma nova perspectiva.
Embora
a bruxa de que Lucas tinha medo Alyson ou Aly, fosse uma bruxa poderosa, ela se
perdeu em seu próprio mundo mágico ao mexer com magia negra e usar seu dom para
qualquer trivialidade. E ele estava preocupado, muito preocupado, que sua
amizade com Luisa pudesse influenciar a irmã de alguma maneira. Ele suspira,
tentando ignorar aquele tipo de pensamento antes de abrir um sorriso, tentando
não mostrar para Luisa o quanto estava preocupado com ela.
- Você só precisa relaxar. Por que não
volta para casa agora, toma um banho de banheira, relaxa... E tenta escrever o
seu artigo.
- Isso se o Carlos me deixar, ele ainda
está no meu apartamento e eu acredito que ele tenha outros planos em mente...
- Melhor ainda! – Lucas diz com um
sorriso safado arqueando as sobrancelhas.
- Lucas! – Luisa reclama corando
diferentes tons de vermelho. – Ai, tudo bem. Eu vou para casa. Qualquer coisa
para evitar essa conversa com você. – Ela dá de ombros antes de Lucas a teletransportar de volta para o seu
apartamento.
Lucas olha preocupado para a imagem de a irmã desaparecer em
uma cortina de fumaça. Ele precisava se preparar caso fosse necessário
enfrentar Luisa por mais que ele odiasse aquela possibilidade. Mas as profecias
da família Lima eram claras como água. Eles iriam combater as forças do mal se
estivessem unidos, caso contrário, um deles seria seduzido para as forças das
trevas e um se voltaria contra o outro. E Lucas precisaria evitar aquilo a todo
custo. Ele precisaria salvar a vida da irmã antes que fosse tarde demais.
Ele pega seu celular que estava na mesa e faz uma ligação a
cobrar. – Alô, mamãe? Sou eu, Lucas. Será que podemos nos ver? Precisamos
conversar a respeito da profecia. Eu estou preocupado com a Luisa.
Depois de combinar de encontrar com sua mãe no dia seguinte,
ele desliga o telefone antes de voltar para seu quarto e parar de pensar na
possibilidade de que sua irmã pudesse ser seduzida para o lado “dark” da
bruxaria. Aquilo era o que ele menos queria.
Luisa chega a casa e se dá por satisfeita quando encontra
Carlos dormindo no sofá. Ela continuava sem cabeça para o que ele tinha em
mente.
Ela dá um beijo no rosto dele e volta para a mesa para
tentar escrever seu artigo. Agora que ela estava um mais calma e sua mente
tinha desacelerado um pouco depois da conversa com Lucas, ela poderia se
concentrar em seu trabalho. Por sorte, ela agora possuía uma coluna semanal no
jornal e estava mais flexível para ela se ausentar por conta de desculpas
esfarrapadas de “problemas de família”. Ela não sabia mais por quanto tempo ela
ia conseguir inventar aquele tipo de desculpa até seu chefe resolver demiti-la.
Quando ela toca na tela do computador novamente, sua mão
sente faíscas de energia. Aquele poder era tentador demais. Ela rapidamente,
tira sua mão do monitor e começa a digitar o seu texto para sua coluna. Por
sorte era uma coluna para a Internet e ela não precisaria ter que ir
pessoalmente ao jornal no dia seguinte. Estava exausta demais para acordar
cedo. Ela revisa o texto novamente antes de publicá-lo no site do jornal. Ela
dá um suspiro aliviado, antes de desligar o computador, notando que Carlos
finalmente acordara.
Ela o ajuda a ir para o quarto, que sonolento falava frases
sem sentido. Eles se deitam na cama, abraçados sem notarem que eram observados
por uma mulher jovem, ruiva e de olhos negros. Alyson tinha chegado ao Brasil e
estava determinada em fazer com que Luisa visse seu ponto de vista. Por bem...
Ou por mal.
FIM
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