Conto: Diários de Uma
Vampira
Autora: Louise Duarte
Classificação: R
Disclaimer: Esses
personagens e história pertencem a mim, não publique o conto sem autorização
prévia ou créditos necessários.
Rio de Janeiro, 12 de Maio de 2011.
Eu acordo e observo você dormindo. Oh Ewan. Você
parece tão relaxado quando não está sob os efeitos da lua cheia. Eu aliso seus
cabelos dourados que se prendem entre os meus dedos. Eu os solto antes de
acariciar seu peito nu. Eu sorrio antes de me levantar, colocando meu robe, não
ousando fazer um ruído que possa despertá-lo.
Vou até a janela e acendo um cigarro, quando imagens
do meu passado invadem a minha mente. Memórias de um passado que eu preferia
esquecer. De como eu fui condenada, amaldiçoada.
Eu comecei esse diário há uma semana e já estou quase
terminando. Aqui narro a minha vida como vampira e como me tornei esse ser das
trevas.
Se eu gosto dessa vida? Se eu gosto de roubar vidas
inocentes para saciar à minha fome? Certamente que não, mas eu me adaptei a
essa condição. Não há nada que possa fazer para mudar isso, infelizmente.
A fumaça do cigarro me acalma, mas logo depois fico
nervosa novamente. Me lembro daquela terrível noite, da noite fatídica em que
me tornei uma imortal.
Era o ano de 1885, na minha adorável cidade de
Londres. Cidade onde nasci. Foi lá, no Regent’s Park em Camden Town que conheci um homem misterioso
e sinistro chamado Kiev Deville, um conde vindo da Ucrânia. Ele disse que
transformaria a minha vida para sempre. E fez o prometido ao me violentar ali
mesmo em uma área isolada do parque onde ele mordeu o meu pescoço sugando todo
o meu sangue. Depois disso, ele ainda jogou o meu corpo no Regent’s Canal antes
de desaparecer.
Eu renasci algumas horas depois. Saí molhada e semi
nua do canal com as minhas roupas rasgadas e destruídas por aquele homem
abominável.
Voltei caminhando lentamente para o Camden Town, o
bairro onde eu morava com os meus pais. Depois de entrar em minha casa e trocar
as minhas roupas úmidas após tomar um banho, eu sinto fome pela primeira vez.
Uma sede de sangue, e isso significava que eu precisava me alimentar o quanto
antes.
É quando a minha ama entra em meu quarto carregando
uma muda de roupas. Eu não vejo outra alternativa e a ataco ali mesmo, sem dar
chance para a pobre mulher de se defender. Eu era mais forte do que ela. Sempre
fui, sem me dar conta disso. Eu devoro seu sangue com todo gosto e sem sentir
nenhum pudor. Aquele liquido quente e rubro e ao mesmo tempo delicioso. Meus
lábios ainda estavam com o liquido escorrendo pelos cantos da minha boca quando
comecei a me sentir diferente. Mais forte. Sinto a minha pele mais enrijecida,
mais translúcida, meu cabelo mais sedoso e meus olhos mais vistosos.
Apesar do que eu fiz, eu me sinto bem, me sinto
satisfeita. Mas tudo muda quando meus pais entram em meu quarto e se dão conta
do que aconteceu. Eles olham para mim, chocados com a cena. Chocados em ver
nossa ama, morta e pálida no chão.
-
Kate, o que você fez? – Minha mãe pergunta assustada,
vendo a minha nova aparência. Eu estava mais bonita, mas também estava
assustadora, com meus olhos amarelos como de um lince e caninos.
Eu, Kate Austeen era uma vampira aos 21 anos e já
tinha feito a minha primeira vitima antes mesmo do dia acabar e com poucas
horas depois de ter sido transformada. Eu não sabia se isso era bom ou ruim. Ou
muito ruim.
Com medo de repetir o feito com meus pais, eu saio
correndo usando somente o vestido que acabara de colocar.
Depois de vagar por horas pelas ruas de Londres, vou
parar em um bordel chamado “Red Light” ou “Luz Vermelha” e apesar de não me
conhecer, a dona me acolhe quando eu aceito trabalhar para ela em troca de ter
um lugar para ficar.
O inicio do meu primeiro emprego foi difícil porque
acabei matando alguns clientes e precisava me livrar dos corpos antes que a
Senhora Darcy desconfiasse de algo.
Com o tempo, eu acabei me adaptando e não matava
somente meus clientes, mas pessoas que cruzavam meu caminho na rua quando a
minha fome apertava. Eu ficava com pena delas, mas não era a culpa das coitadas
terem cruzado o caminho de uma vampira com o estômago vazio.
Eu tive vários relacionamentos. Entre amantes,
clientes, admiradores e até mesmo o Senhor Deville, voltou uma noite ao me
descobrir trabalhando para a Senhora Darcy. Ele queria pagar muito caro para me
ter por uma noite e tentou negociar isso com a senhora Darcy, que acabou
aceitando o acordo. Não tive outra alternativa a não ser me deitar com ele.
-
Você deveria me agradecer, minha querida. Eu lhe fiz
um favor lhe transformando em uma imortal. Você nunca irá morrer ou ficar
doente. Irá viver para sempre e será jovem por toda eternidade.
-
Mas a que preço ? – Eu lhe pergunto, saindo da cama o
mais rápido possível e colocando minhas roupas de volta. – Tirando a vida de
pessoas inocentes para poder me alimentar? Isso é horrível.
-
Você se acostuma. – Ele diz, enquanto se vestia
novamente. Ele joga o dinheiro na cama, me fazendo me sentir um lixo, antes de
ir embora. Eu nunca mais o vejo depois dessa ocasião.
Infelizmente ele estava certo. Eu me acostumei mesmo.
Por mais horrível que seja admitir. Quando você é um vampiro, você precisa
escolher entre a sobrevivência e a sua consciência moral e infelizmente, a
minha sobrevivência continua falando mais alto. Eu sou fraca. Muito fraca.
Foi por esse mesmo motivo que sempre tentei evitar me
relacionar com homens de uma maneira mais profunda que a carnal. Eu não poderia
me apaixonar e deixar ser levada por aquele impulso e depois não conseguir me
controlar e acabar matando o pobre diabo. Isso não poderia acontecer de jeito
nenhum.
É claro que isso mudou quando eu te conheci Ewan. Você
me mudou. Mas você é diferente como eu. É um ser das trevas como eu e juntos nós
nos completamos. E ajudamos um ao outro. Você me ajuda nas minhas necessidades
de vampira e eu te ajudo nas suas necessidades de lobisomem. É por isso que a
nossa parceria dá tão certo. Eu acabei me apaixonando por você de verdade Ewan
Carmichael. Eu pergunto se vampiros tem o direito de se apaixonar, sendo esse
um sentimento tão humano. Mas eu não me importo, você foi o único ser que me
fez me sentir dessa maneira.
O único homem que me faz delirar em nossas noites de
amor, o único que me entende e que pode compartilhar comigo de nossas noites de
crime. Somos a versão sobrenatural de Bonnie & Clyde. Nossas noites se
reúnem em sangue, suor e sexo. Meus três esses (“S”) favoritos.
Eu dou um sorriso bobo, lembrando de nossas noites de
prazer. Meu estômago ronca e vou até a cozinha. Pego uma caneca de sangue
congelado que mantenho na geladeira e coloco no microondas para esquentar. Um
minuto depois está aquecida e quentinha para me alimentar já que não estou com
muita disposição para sair e nossa “dispensa” ou melhor sótão está cheio de
comida. Sangue fresquinho.
Volto para o meu quarto com a caneca, e começo a
escrever novamente antes de notar você se mexendo na cama. Ouço um rosnado,
seguido de um barulho e vejo você acordando. Você se levanta e caminha nu em
pelo na minha direção, se aproximando de mim antes de me fazer largar a caneta
que usava para preencher as páginas desse diário. Começa a me despir em
seguida, rosnando no meu ouvido quando meu robe cai por completo no chão,
revelando minha nudez. Você então me leva para cama, lambendo meu pescoço e
uivando de excitação. Acho que você tem outros planos em mente para essa noite,
Ewan. Vou ter que terminar esse diário uma outra hora.
FIM